Por: Vereadora Sônia Rabelo
Na Câmara Municipal do Rio acontece o inimaginável: o prefeito envia ao legislativo um projeto de lei, cuja pretensão seria a “capitalização” do fundo previdenciário dos funcionários-servidores e, estes, os servidores-beneficiários, se posicionam contra o referido projeto! Isto é plausível, ou há algo a mais nesse suposto “céu de brigadeiro” ?
Na Câmara Municipal do Rio acontece o inimaginável: o prefeito envia ao legislativo um projeto de lei, cuja pretensão seria a “capitalização” do fundo previdenciário dos funcionários-servidores e, estes, os servidores-beneficiários, se posicionam contra o referido projeto! Isto é plausível, ou há algo a mais nesse suposto “céu de brigadeiro” ?
Essa situação é semelhante àquela de alguém que quer dar para outrem algum dinheiro, e o recebedor se recusar dizendo: não, deixa pra lá, não quero não...
A
suposição de que uma enorme massa de funcionários municipais, todos
diretamente interessados no assunto, esteja tão enganada sobre os seus
direitos, não é plausível! Também não é plausível que o executivo,
ciosíssimo de proteger o futuro dos funcionários, tenha a máxima
urgência em aprovar um projeto, que os beneficia, mas que “eles não
entendem”!
Os funcionários-servidores estão na mão dos vereadores
Em
reunião informal ocorrida ontem na Câmara, com a presença do presidente
do Tribunal de Contas do Município e do secretário Guaraná, como
representante do prefeito, alguns pontos me pareceram fundamentais:
O
primeiro apresenta, como justificativa central do projeto, o empenho em
evitar a “falência” da conta gestora dos recursos da previdência dos
funcionários-servidores (conta chamada de FUNPREVI, alocada dentro do
PREVIRIO).
Alega
a chefia do executivo municipal que a situação de insolvência da conta
previdenciária colocaria o governo municipal diante de uma escolha de
Sofia: pagaria os direitos dos aposentados e pensionistas com dinheiro
do Tesouro, cortando investimentos e serviços públicos, ou cortaria os
direitos dos antigos funcionários, continuando com os investimentos na
cidade?
Seria falso este dilema?
Afinal,
serviços essenciais prestados pelo município hoje, tais como educação,
saúde, conservação e fiscalização na cidade, são feitos por aqueles que
se aposentarão amanhã; assim como os aposentados foram aqueles que
serviram à cidade e aos cidadãos ontem.
Para curar um mal, é preciso tratar suas causas, e não seus sintomas
Na
Câmara, 10% dos vereadores são médicos. Eles sabem que o excesso de
antibióticos faz com que o organismo se torne resistente a eles e, no
final, o remédio perde sua eficácia. Para as curas eficazes é preciso,
considerar os sintomas para chegar ao principal, ou seja, às causas, e
nelas operar com proficiência, para se alcançar eficiência.
A
proposta do PL 1005, que estaria “capitalizando” a conta previdenciária
dos funcionários-servidores do Município, é como um antibiótico não
específico. É administrado considerando os sintomas sem chegar às causas
da doença, e nunca será suficiente para combater as bactérias que
consomem as entranhas da administração desses recursos.
Por
isso, os funcionários-servidores, pacientes, e que já viram este filme
antes com outros “doutores”, não aceitam mais esse tratamento, que sabem
ineficaz. Intuitivos, querem uma medicação de eficácia comprovada, que
lhes é, por direito, devida.
Senão vejamos:
1.
Por que um instituto previdenciário solvente como o PreviRio/Funprevi,
que nasceu há menos de 30 anos, sem passivo, teria se tornado
insolvente?
Resposta:
pela sua contínua gestão irregular, pela falta de pagamento dos
recolhimentos devidos pelo Tesouro (explicitamente confirmadas pelo
Tribunal de Contas), e pelo uso político de seus recursos.
2. Então, para que a conta de previdência do Município seja solvente, o que pode fazer um bom governante?
Resposta:
a) Medidas efetivas para que os erros do passado não se repitam
b) Pagar suas dívidas
c) Estabelecer medidas de segurança para que sua cota seja sempre paga no futuro
3. E como se faz para que não se cometa
erros de gestão, e não se caia na tentação de usar dinheiro da
previdência para fins de governo?
Estruturando-se a gestão do caixa
previdenciário com instrumentos de administração, gestão, controle e
fiscalização com autonomia do governo!
4. E como se pagam as dívidas passadas?
Primeiro, fazendo a conta com o credor, isto
é, com os funcionários-servidores. Conta unilateral não é conta, é
bilhete vermelho. Segundo, combinando com aquele a quem se deve a forma e
os prazos de pagamento.
5. E como fazer para garantir que os pagamentos futuros sejam feitos?
Ah, isto já é mais complicado. O Tribunal de
Contas do Município afirmou que, em seu relatório, deixou claro que
havia dívidas do administrador para com a previdência dos
funcionários-servidores, mas que, mesmo assim, a Câmara aprovou as
contas do governante, liberando-o de suas responsabilidades.
Então, voltamos aos responsáveis finais, capazes, ou não, de alterar esta situação: nós,
os vereadores, que aprovamos as contas dos prefeitos, e podemos, agora,
exigir que se apresente não só um plano de capitalização de previdência
para os servidores, mas um plano de gestão que previna a contínua e
conhecida malversação desses recursos.
6. Por que um projeto de lei consistente é fundamental?
Primeiro, por uma postura ideológica, e de
fidelidade aos compromissos do governante com os serviços públicos
permanentes e contínuos, cuja prestação – feita por
funcionários-servidores efetivos, de carreira, remunerados decentemente –
é essencial para lhes garantir independência para servirem aos
interesses do Estado, do público e da sociedade, e não às circunstâncias
efêmeras de cada governante que chega, mas passa.
Segundo, para que não aconteça, o de sempre.
Que os fundos previdenciários solventes sejam o caixa de retirada dos
governantes insaciáveis, que dele se servem, sem qualquer cerimônia,
porque nomeiam e comandam os seus dirigentes e conselhos gestores.
Sem isto, qualquer plano de pretensa
solvência não solverá, mas servirá de trampolim para daqui a
pouquíssimos anos esses mesmos governantes dizerem, como anunciado:
Fizemos todo o possível, mas não conseguimos solver o insolvível. Agora,
temos de alterar os direitos dos servidores, pois não podemos tirar
dinheiro dos serviços públicos ativos...
Discurso este que já fazem agora, para
aprovar um projeto de lei que não se preocupa nem com causas, muito
menos com os efeitos que delas decorrem!
Um plano para “inglês” ver.
Publicado no blo da Vereadora Sônia Rabelo em 31/08/2011
Sem dúvida que o chefe do executivo errou em usar as verbas deste fundo para outros fins, mas quem mais errou, foi quem deveria e poderia impedir e não fez, os VEREADORES.
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